- Qual o seu nome?
- Severino.
- Qual a sua profissão?
- Sou Sem-terra.
- Mas Sem-terra é profissão?
- Há muito tempo, não sabia?
- Não sabia... E é rentável?
- Não tenho o que reclamar, não se paga imposto, não há relógio de ponto e nem patrão pra chatear.
- E o que você faz no seu trabalho?
- Armo esta tenda de plástico onde finjo que vivo nas terra dos outros. Dou entrevistas pra repórteres bobões como você e sento no banquinho com cara de agricultor frustrado o dia todo.
- E a comida?
- Ganho seguro comida.
- E a roupa?
- Ganho seguro roupa.
- E remédios?
- Ganho seguro médico.
- Tens família?
- Claro. Tenho mulher e sete filhos.
- E como a sustenta?
- Renda mínima, Bolsa escola, Auxílio gás, Seguro gravidez, Seguro filho, Seguro pobreza, Seguro escola ...
- Mas o que pretende?
- Meus direitos trabalhistas.
- Como assim?
- FGTS, INSS, Décimo terceiro. Seguro desemprego, férias remuneradas e carteira assinada.
- E depois?
- Ora, aposentadoria por invalidez! Sabe, sentar neste banquinho, de pernas cruzadas, com cara de infelicidade, desgasta a espinhela. Tem gente aqui que após cinco anos, de tanto ficar sentado, virou um bagaço...
- É uma profissão sacrificante?
- Sem dúvida alguma!
- Algum recado?
- Ah sim, às autoridades e às comissões de direitos humanos: Queremos computador, internet banda larga e um colchão de espuma na cama...
- Hã?
- E também queremos aparelho de som com mp3, DVD com videokê, forno microondas, geladeira frost-free, ar condicionado, televisão de alta definição e camera de 12 megapixels.
- Algum outro recado?
- Aos otários, quero dizer, aos contribuintes... Continuem trabalhando, pagando seus impostos e nos sustentando com seus salários.
14 de jun. de 2009
Movimento Sem Terra
Postado por Benito Bondoso às 19:22
Marcadores: eu mereço, mundo estranho
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